Uma vida de muita luta

A história da promotora de vendas Telma Justino, que passou por enormes dificuldades e hoje celebra suas conquistas

 

A promotora de vendas da Quatá Telma Priscila Santana Justino, de 39 anos, guarda na memória lembranças de muito sofrimento. Até por isso, dá enorme valor às conquistas que alcançou nos últimos anos e à vida que leva hoje.

Telma se orgulha do imóvel que ergueu no bairro da Vila Nova Galvão, na zona Norte da cidade de São Paulo, que conta com um salão no térreo – hoje alugado para uma igreja – e sua casa no andar de cima. É feliz pela linda família que construiu com o marido, Emilson, com quem começou a namorar aos 13 anos de idade. O casal tem dois filhos: Kevin, de 22 anos, e Kauany, de 13.

Ela aprecia muito a paz de espírito que sente às quartas, sextas e domingos, quando participa de reuniões na igreja pentecostal Unidos Pela Fé. Valoriza muito também o emprego na Quatá, que ela conquistou há cinco anos e que representa atualmente a principal fonte de renda da família. “Sou muito feliz com o que eu tenho hoje”, ela conta.

Telma passou por muitas dificuldades desde criança. Seus pais tinham uma história em comum: os dois haviam deixado para trás a pobreza no Nordeste para tentar a vida na cidade mais rica do País. Se conheceram em São Paulo, casaram e tiveram Telma e a irmã, Selma. Com a renda de jardineiro e empregada doméstica, moravam em um barraco sem água encanada em uma comunidade da periferia. “Era um barraco bem humilde”, Telma recorda. “A gente caminhava todos os dias vinte minutos até a bica para trazer água para cozinhar, lavar louça, tomar banho.”

“Já me vejo um dia na área de lazer que vamos construir aqui em cima de casa, com meus filhos, os futuros netos, fazendo um churrasco e descansando numa cadeira, apreciando a paisagem”

Aos 16 anos, Telma engravidou e foi morar com Emilson num cômodo junto à casa da sogra e, depois, em um barraco ainda mais simples do que o dos pais, em um bairro próximo, que comprou em 2001 pelo valor de R$ 1.500, em parcelas. “Meu cunhado emprestou R$ 500 que demos de entrada e fomos pagando aos poucos.”

O preço baixo tinha alguns motivos. O principal eram as enchentes constantes no período das chuvas. “Todo ano era a mesma coisa”, ela conta. “De janeiro a março, em qualquer chuva forte, entrava água – nem dá para contar a quantidade de vezes que isso aconteceu.” Assim como na casa de sua infância, o local também não tinha água encanada, que só chegaria de forma regular onze anos depois. Além disso, as paredes não eram de madeirite ou outro tipo de placa de madeira, mas de restos de móveis. Telma dá risada ao contar o dia em que o pastor da igreja fazia uma visita à sua casa e pediu para usar o banheiro. Ela apontou a direção, e ele falou: “Mas, Telma, ali é o armário, eu preciso ir ao banheiro”.

Em sua trajetória, a promotora da Quatá atravessou muitos momentos difíceis. O pior de todos foi a perda do segundo filho, por complicações de saúde, com 1 mês de vida. Outro foi a fase, entre 2002 e 2003, em que não tinha o que comer e se uniu a um grupo de vizinhos que iam à noite até um lixão num bairro distante onde caminhões costumavam despejar produtos vencidos ou estragados recolhidos de supermercados. “A gente se alimentava desses restos”, ela diz.

 

Telma com a promotora Joseane, que a indicou para trabalhar na Quatá

 

Foi com o suor do trabalho que Telma e o marido conseguiram deixar essa história de sofrimento para trás. Assim como a mãe, ela começou como doméstica em casas de família. Depois, foi faxineira em um condomínio e, então, recebeu uma proposta para trabalhar com montagem de pizza em supermercados. Foi lá que conheceu a promotora Joseane Pereira de Souza, da Quatá, que, em 2015, a indicou para o emprego atual.

A estabilidade na Quatá permitiu à família acelerar as obras que transformaram o antigo barraco no sobrado atual, cujo térreo foi erguido meio metro acima do nível da rua, eliminando o problema de enchente. Em cima, a família construiu sua casa com dois quartos, sala, cozinha e banheiro – e com planos para uma área de lazer no terceiro andar. “Já me vejo um dia na área de lazer que vamos construir aqui em cima de casa, com meus filhos, os futuros netos, fazendo um churrasco e descansando numa cadeira, apreciando a paisagem”, ela diz. “Passei por muita dificuldade, mas hoje eu sou muito feliz, graças a Deus.”