Os tombos e as conquistas de Janaína

A trajetória da assistente de fomento da fábrica de Bom Jesus dos Perdões

 

Quando repassa na cabeça o filme de seus 35 anos de vida, a assistente de fomento Janaína Batista Bueno, da fábrica de Bom Jesus dos Perdões (SP), tem algumas lembranças bem dolorosas. Separação dos pais, acidente de trabalho em uma padaria, incêndio da casa, carro furtado. Conforme o filme vai avançando, porém, as tristezas ficam para trás e as alegrias tomam conta da memória.

Janaína nasceu na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, filha de migrantes cearenses que se separaram quando ela tinha 14 anos. O pai, vendedor ambulante, ficou na capital; a mãe, diarista, mudou-se com ela, a irmã e o irmão para Bom Jesus, onde alguns tios moravam.

Ainda adolescente, ela arrumou emprego em uma padaria, onde fazia de tudo: de atender clientes e ajudar o padeiro a fazer pão. Foi nesta função que um dia ela teve a mão direita esmagada por um cilindro de pão em um gravíssimo acidente de trabalho que a obrigou a fazer cinco cirurgias e inúmeras sessões de fisioterapia nos anos seguintes, até recuperar cerca de 90% dos movimentos.

Ao concluir o ensino médio, fez vários cursos com o objetivo de alcançar o sonho de trabalhar na área administrativa: informática, assistente administrativo, assistente de RH. Aos 18 anos, conseguiu um emprego que se encaixava em seus planos, em uma empresa de cremes dentais, mas uma reviravolta positiva em sua vida familiar acabou adiando a realização definitiva desse sonho: seus pais reataram o casamento. “Ter a família unida novamente foi uma sensação maravilhosa para todos nós”, ela conta.

O pai adquiriu um pequeno bar e restaurante na cidade, e ela deixou o emprego para ajudar a tomar conta do negócio. Lá, conheceu um cliente um tanto tímido que se tornaria o seu marido, Anderson Bueno, pai de seus dois enteados: Guilherme, de 19 anos, e Thiago, de 13.

 

“Por mais que apareçam máquinas, nada substitui o ser humano. Sempre haverá pessoas trabalhando, e pessoas precisam ser cuidadas.”

 

Anos depois, ela trocou o restaurante da família por um emprego na cozinha do laticínio Leite Mania e, em 2013, após a Quatá assumir a empresa, teve a oportunidade que tanto esperara. Primeiro no setor financeiro e, alguns meses depois, na área de Planejamento e Controle de Produção (PCP), e em Fomento onde se encontra até hoje, cuidando das tarefas administrativas relacionadas aos fornecedores de leite. O marido também trabalha na Quatá, como operador do equipamento de pasteurização.

No início do casamento, eles enfrentaram um susto e um prejuízo: uma vela deixada acesa sobre a geladeira provocou um incêndio na casa em que moravam, cedida pela sogra de Janaína. Depois disso, foram oito anos de aluguel até conseguirem construir, num terreno que ela ganhou do pai, o imóvel onde moram desde 2015.

O casal na festa de aniversário de Shrek do ano passado

 

No ano seguinte, outro prejuízo: o carro de Janaína e Anderson, um Monza 1995 “que estava novinho”, como ela conta, foi furtado, deixando o casal com as prestações dos pneus que haviam acabado de trocar.

Seis meses depois, compraram um Logan financiado, que terminam de pagar no próximo ano. Na mesma época, a família ganhou um novo membro, Shrek, um Yorkshire terrier que desfruta de muitos privilégios. “O Shrek dorme na nossa cama”, ela diz. “E todo ano tem festa de aniversário para ele, com a presença de nossos amigos e parentes.” Este ano, por causa da pandemia, não houve convidados.

Em compensação, este difícil 2020 lhe trouxe um novo hábito bastante saudável: sair com a prima Keila para pedalar aos sábados, em percursos de até 40 quilômetros, pela região de Bom Jesus e a vizinha Atibaia.

 

Janaína em sua nova atividade: até 40 km de pedal aos sábados

 

Em 2019, Janaína deu início à realização de outro grande sonho: o ensino superior. Ela está fazendo curso tecnológico de gestão de RH, com dois anos de duração.“Por mais que apareçam máquinas, nada substitui o ser humano. Sempre haverá pessoas trabalhando, e pessoas precisam ser cuidadas”, ela justifica.