Da colheita de algodão ao sonho de conhecer a neve

O caminho da supervisora de qualidade Sueli Ribeiro, da fábrica da Quatá de Teodoro Sampaio, da infância pobre aos planos de viajar para fora.

 

No início dos anos 1980, aos 5 anos de idade, ela começou a acompanhar os pais nas colheitas de café, batata, feijão e algodão. Partiam de Euclides da Cunha Paulista, no Oeste de São Paulo, rumo às plantações que precisassem de boias-frias. “Eu ajudava um pouco, brincava um pouco”, ela recorda.

Aos 8 anos, deixou de ir para a roça e passou a dividir o dia entre a escola e o trabalho na casa de parentes em melhor situação de vida, em troca de alimentos para a sua família. Uma de suas responsabilidades era “passar cera e dar brilho naqueles pisos tipo vermelhão que eram muito comuns antigamente”.

Assim começou a vida de trabalho da supervisora de qualidade Sueli Mendes da Silva Ribeiro, da fábrica da Quatá de Teodoro Sampaio (SP), que hoje tem muitos motivos para se orgulhar. Sueli e o marido, Luzinei, com quem se casou aos 16 anos de idade, construíram uma linda história juntos. Ela fez dois cursos técnicos e três anos de faculdade; ele concluiu o ensino superior. Tiveram duas filhas e puderam proporcionar a elas uma boa educação em escolas particulares: Maria Eduarda, de 20 anos, hoje faz faculdade de biomedicina, e Maria Julia, de 15, está no ensino médio. A família mora em uma casa própria de três quartos e tem carro. Tudo isso conquistado à custa de muito sacrifício e dedicação.

 

“Sempre fui muito questionadora, muito curiosa. Gosto de aprender coisas novas, de me envolver em outras tarefas. Isso acaba me levando a novos desafios.”

 

 

Crochê: um dos hobbies de Sueli

 

Sueli entrou na Quatá em 1998. Na época, ela mantinha uma banquinha de venda de fitas K-7 numa rua comercial de Teodoro Sampaio quando um colega falou de uma vaga no laticínio. Começou como ajudante de operações, mas uma característica da sua personalidade a levaria a subir sucessivos degraus na carreira. “Sempre fui muito questionadora, muito curiosa. Gosto de aprender coisas novas, de me envolver em outras tarefas. Isso acaba me levando a novos desafios.”

Convidada para trabalhar na limpeza do laboratório de controle de qualidade, aprendeu a fazer as análises físico-químicas, interessou-se por qualidade em sentido mais amplo, relacionado com o processo de produção e a padronização dos produtos, e foi assumindo novas funções na área. Paralelamente, fez os cursos técnicos de gestão de meio ambiente e de alimentos e três anos de faculdade de engenharia de produção, em Presidente Prudente, a 110 km de Teodoro Sampaio, com aulas aos sábados ou no período noturno.

Foram muitos anos de aperto até alcançar algum conforto. Sueli conta que, após a separação dos pais, seus dois irmãos mais novos foram morar com ela, o marido e, mais tarde, as filhas. Eram seis em uma casa de quarto, sala, cozinha e banheiro, construída no quintal da sogra. Em 2009, conseguiram comprar a casa em que vivem hoje, mas para isso tiveram de abrir mão do carro da família, conforto que só seria reconquistado anos mais tarde.

Sueli é católica e participa muito das iniciativas da sua paróquia, na pastoral da família, em ações voltadas ao fortalecimento dos laços familiares. Quando não está no trabalho nem em alguma atividade externa, gosta muito de ficar em casa, envolvida em alguma de suas práticas favoritas: ler, cuidar de plantas ou fazer roupas e outras peças de tricô, crochê ou macramê.

Entre os sonhos para o futuro, dois se destacam: concluir a faculdade que teve de parar para cuidar da família e viajar para o Chile para satisfazer uma curiosidade antiga. “Quero muito conhecer a neve e pretendo realizar esse sonho nos próximos dois anos”, ela promete.