Boa parte dos mais de trezentos produtores de leite que abastecem o laticínio da Quatá em Douradoquara (MG) recebe regularmente a visita de um representante da empresa muito simpático e comunicativo. Trata-se de Sebastião Pereira de Oliveira, assistente rural que atua na área de fomento daquela unidade da Quatá. Sua função consiste em assegurar que os produtores e transportadores forneçam leite de qualidade para o laticínio, o que motiva as visitas para levar orientações, avaliar instalações e resolver os problemas que surgem nesse processo. Tião, como é chamado por muitos amigos e parceiros, nasceu em um vilarejo a 30 quilômetros de Douradoquara, para onde se mudou ainda na infância. Penúltimo entre sete irmãos, começou a trabalhar na roça aos 6 anos, ajudando a família no sítio em que plantavam milho, arroz, feijão e outros itens como meeiros, repartindo a produção com o dono da terra.
Seguiu assim até terminar o colegial, quando, influenciado por um amigo, decidiu se mudar para Uberlândia, a 150 quilômetros de distância, para fazer curso técnico em agropecuária. Foi o primeiro da família a ir além do ensino médio, no que seria seguido pela irmã caçula. Para se manter em Uberlândia, Tião contou com a ajuda de um amigo, um ex-prefeito de Douradoquara que sempre ajudou sua família, e com o desconto que obtinha na taxa de alojamento e em outras despesas em troca de trabalhos na instituição de ensino, como lavar pratos no bandejão. Durante o curso, perdeu o pai, vítima de complicações da Doença de Chagas.
Depois de formado, voltou para Douradoquara, para trabalhar em uma horta comunitária da Prefeitura, e depois de alguns anos conseguiu um emprego em uma empresa terceirizada da Sadia em Monte Carmelo, para onde se mudou. Prestava assessoria a produtores que forneciam aves para a empresa. Em 2008, entrou na Quatá e retornou a Douradoquara.
Em 1999, ele conheceu Maria Cecília, que na época tinha dois filhos pequenos, Antônio Fernando e Isabela, e com ela se casou, assumindo as crianças. O filho, hoje com 25 anos, trabalha como motorista, e a filha, de 24, faz faculdade de psicologia. A esposa é funcionária pública da Prefeitura. Sua mãe, Alice Pereira, mais conhecida como dona Nica, completou 93 anos de idade no dia 22 de outubro. Ela mora a apenas 500 metros de distância do filho e tem boa saúde. “Eu vou na casa dela praticamente todo dia”, ele conta.
Tião tem casa própria, carro e uma atividade que desenvolve paralelamente ao trabalho na Quatá: em uma chácara alugada perto da cidade, ele e o amigo Delmar Alves, o Bitão, mantêm uma pequena criação de porcos e galinhas. Ele costuma ir ao local duas vezes por dia para cuidar dos animais – uma bem cedinho, antes de começar na Quatá, e outra no fim da tarde. Um sonho para o futuro, após se aposentar, é comprar uma área de uns dois alqueires, construir uma casa, ir morar no local e cuidar de suas criações e plantações.
No ano passado, Tião passou por um período bem difícil quando descobriu alguns nódulos na tireoide, passou por cirurgia para retirar a glândula e recebeu a notícia de que um dos tumores era maligno. “Foi duro saber que eu tinha câncer. Mas, felizmente, correu tudo bem na cirurgia, fiz o tratamento, e o acompanhamento tem mostrado que está tudo dentro do normal.”
Dessa experiência, ele guarda muita lembrança positiva da quantidade de pessoas que lhe deram apoio, como os chefes e colegas da Quatá, os carreteiros que transportam o leite, os produtores rurais que recebem sua visita regularmente e, claro, a família. “Eu não imaginava que era tão querido assim”, ele conta. “Saber disso me deu muita força e muito conforto nos momentos difíceis”.